A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO ESPECIAL
MARLEI VIEIRA
Artigo Científico Apresentado ao Instituto Superior de Educação Ibituruna - ISEIB, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Educação Especial e Inclusão com Ênfase em Deficiência Intelectual e Múltiplas.
RESUMO
Esse estudo tem a intenção de colaborar com ideias acerca da contribuição da ludicidade que favoreça a aprendizagem de forma prazerosa e interessante para o educando. Esse artigo tem o objetivo de analisar a importância das práticas lúdicas com alunos da Educação especial. Fundamentado teoricamente em autores como: Kishimoto (1994), Piaget (1998), Vygotsky (1998), entre outros que tratam desta abordagem, destacando as metodologias e os processos mentais individuais de cada educando. Tratando-se de vivencias no interior de uma escola pública, especificamente com alunos da Educação especial e seus múltiplos desafios diários no ambiente escolar, o convívio, interações e por que não a exclusão dento da dita veladamente “inclusão” que a realidade mostra que muitas vezes não acontece por diversos motivos na maioria das vezes alheios a vontade dos profissionais que ali atuam, são políticas públicas que efetivamente não acontecem como foram idealizadas, porem e muito felizmente a grande maioria dos profissionais que atuam na área da educação fazem mais do que realmente são pagos para fazer, demonstrando comprometimento e dedicação excessiva em sua função e aos poucos mesmo que lentamente as coisas vão acontecendo nos ambientes educacionais, favorecendo o ensino aprendizagem de forma diferenciada e lúdica, que são as formas de chamar a atenção dos alunos da Educação Especial que por suas deficiências já demonstram falta de interesse e por muitas vezes não entendem o que se passa ao seu redor. A importância do desenvolvimento de atividades lúdicas no ambiente educacional é crucial para que o aprendizado aconteça e de fato a educação faça seu papel, que entre outros, é o de integrar e criar cidadãos críticos que exerçam a autonomia necessária para modificar a realidade que vivem.
Palavras-chave: Ludicidade. Aprendizagem. Educação Especial. Aluno.
Introdução
O presente artigo tem como tema, a importância do lúdico no processo de aprendizagem na educação especial. Os alunos da educação especial é um público diferenciado dos demais, no ambiente escolar, porem estão inseridos ali todos juntos para compartilhar os mesmos espaços, dificuldades, interações, empatias e por vezes bullyings, então o ambiente é complexo e ali também se encontram os profissionais da educação, portanto e necessariamente a frente desse processo e diretamente envolvido com o aluno está o professor/a, para mediar esses conflitos e fazer com que a aprendizagem aconteça de forma planejada e continua, e em todo esse processo encontra-se instalados nas maiorias das escolas de MT as salas de recursos que vem de encontro ao atendimento dos alunos da educação especial, sempre no horário contrário das aulas do ensino regular, nesse espaço acontece o atendimento de forma individual ou coletiva dependendo da demanda de alunos, durante quatro horas semanais divididas em duas horas por períodos de atendimento, e as atividades desenvolvidas são lúdica para chamar a atenção dos alunos, para interferir em seu mundo e fazer com que alguns conceitos sejam adquiridos no decorrer do ano.
A educação lúdica contribui e influencia na formação da criança, possibilitando um crescimento sadio, um enriquecimento permanente, integrando-se ao mais alto espirito democrático enquanto investe em uma produção séria do conhecimento. A sua prática exige a participação franca, criativa, livre, crítica, promovendo a interação social e tendo em vista o forte compromisso de transformação e modificação do meio (ALMEIDA, 2003, p. 41).
Partindo desse princípio as questões norteadoras do trabalho serão;
- A aprendizagem realmente acontece através de atividades lúdicas?
- A interação e intervenção do professor frente aos desafios da educação especial na perspectiva da mediação de atividades lúdicas contribuem para autonomia do indivíduo?
O objetivo principal desse artigo é destacar a importância das atividades lúdicas buscando desenvolver no aluno o prazer em aprender brincando, e sendo assim são conceitos que internalizam e fazem com que o aprendizado aconteça através da mediação dos/e/ou professores/as.
Todo o artigo é baseado em pesquisa bibliográficas, de autores respeitados que tratam sobre a ludicidade como ferramenta para produção do ensino e por consequência a aprendizagem acontece.
Desenvolvimento
A educação muda a realidade e a vida das pessoas, fazendo com que reconstruam seus conceitos de mundo ressignificando suas práticas no cotidiano, e as atividades lúdica, brincadeiras, brinquedos e jogos contribuem de forma singular nesse processo da construção do ensinar e aprender.
Brincar é coisa séria, também, por que na brincadeira não há trapaça, há sinceridade engajamento voluntário e doação. Brincando nos reequilibramos, reciclamos nossas emoções e nossa necessidade de conhecer e reinventar. E tudo isso desenvolve atenção, concentração e muitas habilidades. É brincando que a criança mergulha na vida, sentindo-a na dimensão de possibilidades. No espaço criado pelo brincar nessa aparente fantasia, acontece a expressão de uma realidade interior que pode estar bloqueada pela necessidade de ajustamento às expectativas sociais e familiares (VIGOTSKY, 1994, P. 67).
Através de atividades lúdicas o educador/a consegue alcançar os objetivos traçados para que de fato a aprendizagem aconteça, tratando-se da educação especial é primordial essas atividades que foge do tradicional das salas de aulas comum, é uma forma dos alunos conseguir assimilar conhecimentos que auxiliaram nas atividades da vida diária, facilitando a vida de forma geral.
“De uma forma geral o lúdico vem a influenciar no desenvolvimento da criança, é através do jogo que a criança aprende a agir, há um estímulo da curiosidade, a criança adquire iniciativa e demonstra autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração” (VIGOTSKY, 1994, p. 81)
A concentração de alunos deficientes mental, é rara, porém com jogos e brincadeiras consegue-se o interesse e por vezes a assimilação acontece de forma tranquila, por que para criança brincar é mais gostoso do que estudar, o professor/a bem preparado utiliza desses artifícios na sua prática pedagógica e diária, e a interação durante a mediação das aulas contribuem para que as habilidades efloresçam. De acordo com (Kishimoto, 2002, p.146), “por ser uma ação iniciada e mantida pela criança, a brincadeira possibilita a busca de meios, pela exploração ainda que desordenada, e exerce papel fundamental na construção de saber fazer”. E nessa exploração e manipulação descobrem-se formas alheias a tradicional de se brincar um jogo ou brinquedo, porem o aluno se interessa por vezes pelo modo que inventou mais que pelo modo que o professor/a propor, mais o interessante é que o objetivo foi alcançado mesmo que de outra forma, fugindo do planejado. (Kishimoto, 1993, p. 110) nos diz que:
Brincando [...] as crianças aprendem [...] a cooperar com os companheiros [...], a obedecer às regras do jogo [...], a respeitar o direito dos outros [...], a acatar a autoridade [...], a assumir responsabilidades, aceitar penalidades que lhe são impostas [...], a dar oportunidades aos demais [...], enfim, a viver em sociedade.
Os educadores de forma geral são unânimes em destacarem a importância das brincadeiras, jogos e do brinquedo, porém, existe um paradoxo, principalmente nos anos iniciais e final do ensino fundamental onde brincar é entendido como perca de tempo, foge do currículo tradicional e cobrado constantemente, e a ludicidade acontece de forma esporádica e quase sempre sem planejamento, “o conteúdo acabou vamos fazer um jogo para passar o tempo até dar o sinal”, e assim perdem a oportunidade de utilizar essa ferramenta para melhorar os índices, a indisciplina, regras e limites entre outras possibilidades, já na educação infantil essas atividades já são mais evidentes e acolhidas de forma mais ampla, e na educação especial é a forma ideal para que uma educação transformadora e libertadora aconteça, por que toda criança brinca, e se isso não acontece com certeza algum problema existe e deve ser investigado.
Conforme (Santos, 1999, p.12), para a criança, “brincar é viver”. Verdadeiramente explicito nessa frase, a importância que o simples ato de brincar tem na vida de um indivíduo em construção permanente e continua. Entretendo a sociedade capitalista, o mundo atual e a vida cada vez mais corrida está de forma constante e até obscenamente podando esse hábito, seja por falta de tempo dos pais para passar com suas crianças, seja pela máquina capitalista enfiando na cabeça que é melhor ter coisas do ser, interagir com o outro, aprender a compartilhar, está cada dia ficando mais raro, e as nossas crianças estão se tornando miniatura de pessoas adultas, cortando fases, queimando etapas importantíssima para o desenvolvimento integral do ser humano. Segundo Piaget (1978), “as atividades lúdicas atingem um caráter educativo, tanto na formação psicomotora, como também na formação da personalidade das crianças. Assim, valores morais como honestidade, fidelidade, perseverança, hombridade, respeito ao social e aos outros são adquiridos”. As atividades lúdicas aparecem como forma facilitadoras da aprendizagem, pois brincando se aprende a pensar, a raciocinar, solucionar problemas, compartilhar, dialogar, interagir com o outro e nesse processo libertador que é o ato de brincar acontece a aprendizagem de forma significativa, onde os saberes aprendidos se interiorizam para toda a vida do indivíduo por que brincar é sinônimo de aprender.
A criança que sempre participou de jogos e brincadeiras grupais saberá trabalhar em grupo; por ter aprendido a aceitar as regras do jogo, saberá também respeitar as normas grupais e sociais. É brincando bastante que a criança vai aprendendo a ser um adulto consciente, capaz de participar e engajar-se na vida de sua comunidade. (VIGOTSKY, 1994, p. 82-83)
A ludicidade com suas múltiplas facetas e possibilidades é uma ferramenta facilitadora da aprendizagem, e o profissional que conseguir entender essa forma de fazer pedagógico, tem o poder de revolucionar o ambiente, e já que nos ambientes domésticos e familiares essas práticas andam ficando cada dia mais distanciadas da realidade, cabe aos ambientes escolares, buscar essa alternativa como forma de fazer com que a aprendizagem aconteça de forma prazerosa e mobilizadora dessa realidade evidente da sociedade contemporânea que vivemos, e assim a escola passara a ser um refúgio que remente a saberes significativos e essencial para a vida.
“O brincar é o principal meio de aprendizagem da criança”... a criança gradualmente desenvolve conceitos de relacionamento causais o poder de discriminar, de fazer julgamentos, de analisar e sintetizar, de imaginar e formular. (DES, 1967; parágrafo 523).
Os jogos de forma singular contribuem para que a criança compreenda as diversas situações de sua vida e prepare-o para o futuro com novas e melhores perceptivas. (KISHIMOTO, 2002, p. 95). O jogo é uma das experiências mais ricas para à criança, onde ela pode se divertir, aprender e se desenvolver integralmente. Segundo Redin (2000):
A criança que joga está reinventando grande parte do saber humano. Além do valor inconteste do movimento interno e externo para os desenvolvimentos físicos, psíquicos e motor, além do tateio, que é a maneira privilegiada de contato com o mundo, a criança sadia possui a capacidade de agir sobre o mundo e os outros através da fantasia, da imaginação e do simbólico, pelos quais o mundo tem seus limites ultrapassados: a criança cria o mundo e a natureza, a forma e o transforma e, neste momento, ela se cria e se transforma (p.64).
Sendo assim é urgente a necessidade do educador atual, antenado perceber essa feramente e utiliza-la no fazer pedagógico, desenvolvendo habilidades de pensar, raciocinar, e a forma própria de cada criança em manipular e criar novas maneiras de jogar, criando assim um ambiente onde a aprendizagem ocorra de fato de forma significativa. Segundo MOYLES (2002), [...] Acima de tudo, o brincar motiva. É por isso que ele proporciona um clima especial para a aprendizagem [...].
Diante disso o educador com posse deste conhecimento poderá usar a seu favor e contribuir na formação do caráter do educando. Segundo Piaget, citado por Kishimoto (2000), “os jogos não são apenas uma forma de divertimento, mas são meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual".
Desse modo fica claro que a escola com seu dever de propiciar a educação formal, muitas vezes ainda não percebe o leque que se abre cheio de possibilidade para o ensino e a aprendizagem do aluno com base na ludicidade. Para PIAGET (1971) o lúdico envolve não apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para gastar energia, mas um meio que contribui para o desenvolvimento intelectual.
Portando, faz se necessário, formação continuada constante no interior das escolas, centrando a importância das atividades lúdicas como contribuição para o processo do ensino e da aprendizagem. Políticas públicas que visem a formação de cidadãos conscientes de seus deveres e direitos na sociedade em que estão inseridos. Pressupõe que, o estudo por parte dos educadores seja continuo na busca do fazer pedagógico atrativo, envolvente e indispensável para formar homens e mulheres mais humanizados e felizes.
Conclusão
No transcorrer da escrita desse artigo fica evidente que as ideias expostas são contribuições acerca da importância de atividades lúdicas nos ambientes educacionais, na interação entre professor/a aluno/a e os demais colaboradores do ambiente escolar, percebendo as potencialidades que o brincar, jogos e brinquedos traz para o ensino e por consequência o aprendizado de forma significativa e intransferível na vida de cada aluno.
Desde os temos remotos o brincar faz parte da infância em diversas culturas pelo mundo, porem as fundamentações teóricas comprovam a sua eficácia na área da educação especialmente com alunos da educação especial onde o apropriar do saber ainda é mais complexo e a ludicidade vem de encontro para suprir essas necessidades como uma ferramenta facilitadora do ensino aprendizagem, com interações e afetividades que as atividades lúdicas favorecem.
Cabe ressaltar a importância de pesquisa que venham de encontro ao tema tratado, pois dúvidas são constantes, e há sempre alguém para dizer que brincar é perca de tempo. Lembrando que as atividades lúdicas tanto nos ambientes familiares e/ou nos ambientes escolares são de suma importância, mobilizar maior número de pessoas engajadas e comprometidas com ações que venham de encontro a humanizar e enfatizar que as pessoas que corajosamente defendem a ideia que prevenir é melhor que combater, e a necessidade de compartilhamento de vivencias com relatos que fortifiquem ações lúdicas são de suma importância.
Diante do exposto, resta ressaltar o papel das áreas educacionais que deve considerar as atividades lúdicas como parte de seus currículos, constando no PPP das instituições, tendo como objetivo principal o desenvolvimento integral da criança.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo, SP: Loyola, 2003.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos, brinquedos, brincadeiras e educação. São Paulo, SP - 6ª ed., (org.): Cortez, 2002.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos tradicionais infantil: O jogo, a criança e a educação Petrópolis: Vozes 1993.
KISHIMOTO, T. M. (Org.) Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 4ºed. São Paulo: Cortez, 2000, p.183.
MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil/Janet
___________. (org.). O brincar e suas teorias. SÃOPAULO: PIONEIRATHONSON Learning, 2002.SAMPIERI,
PIAGET, J. A formação do símbolo na criança: IMITAÇÃO, JOGO E SONHO, IMAGEM E REPRESENTAÇÃO. 3ºed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.
REDIN, Euclides, O espaço e o tempo da criança. 3ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2000.
SANTOS, Santa Marli P. dos (org.). Brinquedo e Infância: um guia para pais e educadores. Rio de Janeiro: Vozes, 1999. R. Moyles; trad. Maria Adriana Veronense - Porto Alegre: Artmed Editora,2002.
VIGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.